Crônicas

Audiência em Ourinhos

Foi um susto enorme! Saímos de Curitiba, eu e o cliente, para uma audiência em Ourinhos, SP. Ele foi dirigindo e contando as histórias da sua indústria; eu respondendo com minhas experiências na advocacia.

Foi um susto enorme! Saímos de Curitiba, eu e o cliente, para uma audiência em Ourinhos, SP. Ele foi dirigindo e contando as histórias da sua indústria; eu respondendo com minhas experiências na advocacia.

A audiência estava marcada para 18h00. Então, fiz o que devia, passei pelo fórum e fui conhecer o meu “teatro de operações”, como eu gosto de dizer, saber onde seria travada a batalha, porque uma audiência tanto pode ser um simples encontro entre as partes, como pode transforma-se em um verdadeiro duelo. Isso é normal e imprevisível.

Às 17h00, já estávamos esperando na porta da sala de audiências. Às 18h10 eu desconfiei daquele silêncio e fui até o balcão, quando, estupefato, ouvi que o processo já estava com o juiz para despachar a revelia. Isso porque eu não me apresentei no balcão minutos antes do horário. “Mas, como? eu não apenas me apresentei como estou sentado aqui há uma hora”.

Fiquei gelado, saí correndo, literalmente, entrei de supetão na sala do juiz, interrompi a audiência que estava acontecendo e fui desfiando o rosário: “doutor, cheguei aqui às 15 horas, estou esperando desde às 17, sentei-me no local indicado, na porta da sala de audiências, não posso aceitar essa revelia”. O cliente percebeu a minha agitação, o juiz, a minha indignação e a parte contrária vibrava de alegria, claro.

Mas, estávamos diante de um grande juiz que percebeu logo a injustiça, mandou reabrir a nossa audiência e me deu a oportunidade de defesa. Ufa! Baixei o tom e mostrei todas as minhas razões e todos os documentos que eu trazia, muitos e bem organizados, numerados, cheios de referências com caneta vermelha, destaques com grifa-texto.

Diante daquilo, a parte contrária acabou por admitir que sabia da fragilidade da sua pretensão. Era o que eu precisava para tecer um acordo insignificante, menos de cinco por cento do que pediam, e encerrar o processo.

Chegamos em Curitiba às 02h00 da madrugada. Viemos reconfortados e felizes, contando outras e outras histórias. Foi um dia para se guardar na memória. Eu, pelo menos, nunca esqueci, um verdadeiro dia de advogado. Meu coração viu-se testado, mas resistiu e, apesar de alguns sobressaltos, bate até hoje.

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